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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os seus objectivos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, adormecidas... ou anestesiadas por fórmulas e conceitos preconcebidos. Embora parte dos seus artigos possam "condimenta-se" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade com libertinagem de expressão" no principio de que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros".(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico e por vezes corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausadamente, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas análises, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell).Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de blogues a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, o que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão com alguma delas... mas somente o enriquecimento com a sua abertura e análise às diferenciadas ideias e opiniões, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais e válidos para todos nós, dando especial atenção aos "nossos" blogues autóctones. Uma acutilância daqui, uma ironia dali e uma dica do além... Ligue o som e passe por bons e espirituosos momentos...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O NINHO



O NINHO

Foi na Primavera, quando pela chaminé da casa do Cidadão, se começaram a ouvir uns chilreados…para lá são enviados os vapores da confecção de alimentos e a exaustão do esquentador a gás… ao fim de alguns dias, esses barulhitos aumentaram de intensidade e não havia nascer de Sol em que o Cidadão tivesse de tomar o pequeno almoço sem a companhia de tal algazarra! Volta e meia umas palhitas e outras plumas caíam sobre o fogão, exasperando o Cidadão, dando-lhe ganas de subir ao telhado afim de pôr côbro àquela chinfrineira, mas depois, reflectia… isto é vida! Isto é a vida a eclodir! Não! Mas quem se julgava o Cidadão para terminar com as pequenitas vidas, desfazendo um ninho de pardais? Sim, porque um ninho dará trabalho a construir, em palhinhas entrelaçadas, barro, retalhos de tecido e plumas, numa laboriosa perfeição da natureza… e a vida não se mede pelo tamanho das asas ou do corpo que habita! Não seria por motivos de sobrevivência, mas sómente por uma questão de comodismo e sossego, que o Cidadão faria um trabalho desses! E assim, os pardalitos foram convivendo e habitando com o rapaz! Chegavam a invadir-lhe a privacidade, ao encontrarem porta ou janela abertas… nessas ocasiões, a gata Cristie fazia jus dos seus dotes de caçadora e, com jeitinho, vinha depositar delicadamente os bicharocos nas mãos do Cidadão, da Companheira ou dos Juniores, todos babados, tremidinhos e de pulsação acelerada, mas ilesos, e depois eram devolvidos ao espaço exterior! Durante o tempo quente, o Cidadão acabou mesmo por colocar na varanda, um pequeno bebedouro invertido, acompanhado de uma tigela, onde deixava alpista, ou pedacitos de pão! Venciam-se semanas, com o Cidadão habituado ao ruidoso despertar da natureza, quando, certo dia, sentiu um chilrear diferente… mais curto… fraco… e fino, cruzado com as algazarras da passarada! Se há sentido que o Cidadão tem bastante apurado, é o da audição, devido a ancestrais experiências e necessidades, quando, de pequeno, se embrenhava nas savanas onde os meninos Africanos lhe davam a provar fuba e mandioca! Motivo da grande “pancada” pelas difíceis caminhadas… embrenhado em zonas ripícolas, nas matas, nos vales profundos, progredindo nas margens de ribeiras… trepando montanhas! Ainda o bicho se ocultava a umas boas dezenas de metros e já o Cidadão o detectava! Mesmo um réptil! Dons… Voltando ao assunto, esse chilrear foi ganhando força, alvorada atrás de alvorada, como se de uma família numerosa e feliz se tratasse!
Até que certa manhã… tudo se calou!...
Estranho…
Segunda manhã…o silêncio manteve-se…
Terceira manhã… e zero! Veio o Domingo…
E o que se meteu na ideia do Cidadão? Subir ao telhado de sua casa, para verificar o que se passava! Ora vejam só, a grande pancada! Subir ao telhado de uma habitação, por um ninho de pardais!
- È mesmo de cachopo! Ralhou a Companheira!
-Ò papá, ganha juízo! Vociferou o Júnior!
-Miaaau!!! Miaaaaooou!!!
-Também tú, gata Cristie? Mas que olhões me estás a botar!
Porque em casa do Cidadão reina a liberdade de expressão e a pluralidade de ideias…Lá foi ele, todo lampeiro… de escadote em punho, coisa e tal… arfando por todos os poros, pois não tem lá muito jeito para trepar ás chaminés como o Pai Natal… quando a alcançou…mais valia não ter lá ido! Um passarito prostrado sobre as telhas, morto, junto ao fuste da chaminé!
Desceu…
E aí, a famelga toda lhe questionou:
-Atão?
-Então?
-Desembucha!
-Miau?!
E o Cidadão, nada respondeu!
O cidadão ficou assim… um bocadinho p’ró acabrunhado.
E nada explicou… nada disse. Mas todos notaram…
Que o Cidadão ficou… um pouquinho desolado.
-Miau? Indagou a gata Cristie…
Todos se votaram ao silêncio.
Foram-se esvaziando alvoradas,
Nascendo outros Sóis…
O chilrear parecia ter ficado entranhado nos ouvidos do Cidadão...
Vieram mais madrugadas… algumas chuvosas…
Sempre o mesmo chilrear… parecia ainda vir da chaminé… o Cidadão encontrou mais uma palhinha no seu copo de alumínio… hum… na manhã seguinte… uma pluma caía suavemente sobre o fogão… depois de umas quantas madrugadas, já a azáfama tinha voltado ao que era dantes! A gata Cristie a babar os pardais, o Cidadão a “gramar” a barulheira matinal, a Companheira desfazendo côdeas de pão e enchendo o bebedouro, os Juniores felizes, por ter uma vasta família… com a bicharada incluída, e um Pai mêmo castiço… que aceita as diferenças!
-LOL! O meu Cota é bué dãã convencido! LOL!!!
-Ah! Vem cá, meu malandro!!! Então isso escreve-se!? Estão a ver? Estão a ver no que dá a liberdade de expressão?! Ah, se te apanho! Oh! Oh! Oh! Ah! Se te agarro!
-LOL! LOL! LOL! LOL!
“Eu não quero ficar parado
fico velho
vou marchar até ao fim
isolado

Nesta marcha solitária
dou o corpo ao avançar
neste campo aberto ao céu
Eu não quero ficar parado
fico velho
vou marchar até ao fim
isolado

Nesta marcha solitária
dou o corpo ao avançar
neste campo aberto ao céu

Ninguém sabe
para onde eu vou
ninguém manda
em quem eu sou
sem cor nem Deus nem fado
eu estou desalinhado

Por tudo o que lutei
ser sincero
por tanto que arrisquei
ainda espero

Esta marcha imaginária
quantas baixas vai deixar
neste sonho desperto?”
“Marcha dos desalinhados”
Resistência.
Nesta sociedade comodista onde ainda existem alguns que regozijam com o silenciar da voz de uma causa que não é a sua.