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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os seus objectivos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, adormecidas... ou anestesiadas por fórmulas e conceitos preconcebidos. Embora parte dos seus artigos possam "condimenta-se" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade com libertinagem de expressão" no principio de que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros".(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico e por vezes corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausadamente, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas análises, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell).Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de blogues a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, o que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão com alguma delas... mas somente o enriquecimento com a sua abertura e análise às diferenciadas ideias e opiniões, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais e válidos para todos nós, dando especial atenção aos "nossos" blogues autóctones. Uma acutilância daqui, uma ironia dali e uma dica do além... Ligue o som e passe por bons e espirituosos momentos...

domingo, 16 de agosto de 2009

A CRATERA





A CRATERA



Aos pés de uma Tubucci adormecida o Cidadão enresinado e de fígado baralhado pela Via-Sacra das romarias noctívagas de Agosto, terminava a travessia da centenária Intzelista ponte rodoviária que une as Tágides margens do espelho de água, na certeza de uma caminhada algures nos planaltos talhados pela erosão das correntes ribeirinhas, dando de caras com algo contrastante á monumental ode aos Saveiros!


Bem no centro daquela rotunda, uns saquitos azuis… em plástico… cheios de… lixo!

Cheios, cheios... não…

Notava-se que os regionais canídeos já tinham dado umas espreitadelas, espalhando o conteúdo pela verde grama!


Por ventura nas redondezas haverá deficiente logística municipal de recolha de resíduos sólidos?

Não!

Em ambos os lados se alcançavam grupos de contentores… Assim sendo, qual o motivo para tal despropósito?

Apeou-se do chiante para sacar as respectivas fotos, olhando antes em redor, não andasse por’li alguém mais curioso.

Estava cá o Cidadão envolto nestes cogitares quando algo lhe roçou a nuca… virou-se, dando de caras com outro fenómeno!

Poças que é muita acção para uma só manhã!

Extensa e verde rede supressora de imagem separava cá o rapaz de uma cratera de terra revolta!

Que raio seria aquilo?

O alicerce do primeiro pilar para uma nova e tão almejada ponte?

Percorreu alguns metros em demanda de um painel, de um cartaz, ou de um qualquer quadro elucidativo da coisa, daqueles que costumam aparecer nas obras particulares com o nº de licença e de alvará… ou das obras públicas onde estão inscritos uns milhões de euros mas… népias!

Nem um sinalzinho…

Nada também não seria bem assim… avistou o amputado troço de dois postes de iluminação pública em zinco zarcão, tipos armandodaluz, e cartazes com bué da fotografias de pessoas mais ou menos sorridentes e um tanto ou quanto engravatadas… qualquer coisa relacionada com as campanhas que se avizinham…

Entretanto, surgiu um lulu vigiado por um senhor, e não fosse o animal cair na dita cratera ao alçar do pernil…o que alteraria por completo o bom ritmo desta crónica meio marada, indagou-o cá o Cidadão, apontando-lhe o buraco!

-Ò amigo… meteorito?

-Onde!? Onde?!

Exclamou o interlocutado, olhando para o Céu, socorrendo-se da mão direita como pala solar no sobrolho… pois aquilo dava a ideia de um novo monumento importado dos States, ao género de Barringer, no Arizona.


-Ganhe calma, ó amigo! È aqui em baixo… o que aconteceu por estas bandas para tão magnâmino aparato?

-Livra, que susto… olhe que ainda não tomei o comprimido para a tensão!

-Desculpe… o amigo reside por estes sítios?

-Sim… moro além…

E com um rubro queixo farto de carnes… apontou a direcção certa…

-Sabe-me explicar o que se passou por aqui…Ou lá o que foi isto?

-Ouça, não sei nem quero saber… e não me meta em problemas!

-Mas, ó senhor, não é problema nenhum!

-Não sei… e por aqui ninguém sabe!

-È secreto?

-Ou isso!

-Mas... pelos jeitos… Ena pá aquelas moças que além vêm são mesmo madrugadoras e de fazer parar o trânsito!


-Âh? Fizeram parar o trânsito sim senhor! Na semana passada, a 11 de Agosto… a partir aí das oito da manhã foi o caos!


-Ai! Sim?!

-É verdade! Espetaram com sinais luminosos vermelhos em cada uma das entradas da ponte e deu-se um monumental congestionamento!


-Sendo assim… as tipas já por cá estão há uns dias…

-E verdade! Vieram para aqui uns maquinões perturbando isto tudo, c’até carros circulavam pelo lado contrário da rotunda!


-Poderosas!

-Como a coisa se complicava… depois apareceram uns pêéssepês que conseguiram meter alguma ordem na bagunçada!

-Fantástico! Foi pena não ter estado por cá nestes dias!

-Veja bem que á hora do almoço, pararam as máquinas, pararam as obras, e os cones de sinalização continuaram cortando desnecessariamente o trânsito da rotunda e da ponte, forçando os polícias a permanecerem por aqui á torreira do Sol escaldante, pondo ordem no trânsito! Era vê-los de garrafinha de água nas mãos, limpando o suor que lhes escorria debaixo dos bonés! Uma destilação completa!

-Então as gaijas conseguiram causar assim tão grande transtorno?

-Quais gaijas??


-Aquelas tais… que ali vão e fizeram parar o trânsito!

-Ah! Mas eu não estava a falar das gaijas! Era das obras!!!

-Catano!!! Irra!

-???????

-Repare, além duas tampas de esgoto… se calhar… duas manilhas… alguma coisa a ver com o saneamento… o povo é sempre o primeiro a pagar e o último a saber…

-Por favor! Não me comprometa! Não me comprometa… quero viver a minha reforma em sossego!

-E os sacos de lixo em cima da relva da rotunda… o tipo que abandona ali aquilo, será zarolho?

-Todas as madrugadas aparecem sacos com lixo em cima da placa!

-Alguma tradição?

- Tradição? Qual tradição?... Por favor! Não me comprometa! Não me comprometa… quero viver a minha reformazinha sossegado!

-E ainda não tomou o comprimido p’rá tensão…

-Como sabe?

-Não há nada a fazer!

-Olhe que atiço-lhe o cão!


Assim terminou esta crónica com um feroz Chihuahua roçando a sua babada dentuça no calcanhar da bota cá do rapaz!